terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Nenhuma terra é bonita, quando nela se vive mal

Perdido numa procura do reino maravilhoso cantado por Miguel Torga, fui dar comigo em Pardelhas uma terra lindíssima, diferente de todas as outras mas idêntica a muitas aldeias das Terras de Basto, uma aldeia que se parece fundir-se na paisagem, as casas ao longe parecem rochas amontoadas que só se deixam adivinhar pelo fumo que expeliam.
Perdi-me a observar a excelência da arquitectura vernácula da aldeia, que agora se faz pontuar por elementos dissonantes, que mostra o poder que as pessoas já têm de ir buscar para as novas construções materiais de bem longe, e que não se fundem. Admirava o xisto, a escala e a mestria da construção, admirava as ruas negras, admirava até a beleza de algumas ruínas, que apesar de ruínas não deixavam de ser belas, sentia-me uma personagem envolvida num cenário de outra época, em que a musica de fundo era a dos chocalhos dos rebanhos que se recolhiam por aquela hora. Falei com as pessoas ,admiro a sua hospitalidade e simpatia, admiro os rostos marcados pelo tempo e talhados pela vida, admirava tudo porque tudo me parecia belo, e uma das pessoas ao notar o meu fascínio me disse: , “não goste disto aqui, isto é uma miséria tão grande…oh meu deus aqui não há nada”, com um rosto amargurado de onde a felicidade parece ter fugido. Inquietou-me e ainda hoje me inquieta, e eu tentando corrigir e elucidar a pessoa para a beleza daquela terra disse: "isto aqui é lindissimo", recebendo como resposta final, "oh meu senhor nenhuma terra é bonita, quando nela se vive mal" E aquelas ruas deixaram de ser lindas para passar a passear a solidão, o xisto das casas tornou-se negro demais ,frio e húmido, e passava também a esconder a agonia. Não consigo dizer que se vive bem na minha terra quando noto a situação de terras como estas. Não consigo perceber que não tenha havido astúcia para transformar a excelência desta terra, a sua beleza e genuinidade, como forma para atrair e explorar nestes locais focos de turismo . Já vimos que o negro(asfalto) não resolve todos os problemas, temos que apostar em ideias, para polir este diamante que está em bruto, são precisas ideias para emprenhar aquela terra de esperança e caçar os sorrisos da sua poulação, é preciso que se faça algo por esta gente cada vez mais isolada num mundo globalizado, em que é preciso envolver tudo e todos, e quem estiver isolado não resiste com êxito. É preciso mostrar estes diamantes em bruto que temos na nossa região, é preciso mostrar bons exemplos e envolver actores dinamizadores nesta missão, porque é lucrativa, hoje cada vez mais é valorizada uma qualidade de vida que se tem nestes espaços se neles houver movimento, que espante a solidão existente, e estruturas que tornem aquelas aldeias mais autónomas. A resposta para mim está no lugar, que não deixa de possuir as valências que outrora fixaram lá estas gentes, e valências que se forem exploradas podem atrair para este tipo de aldeias uma nova dinâmica e uma riqueza muito aprazível para quem lá vive. Se utilizarmos os incentivos e estímulos dados pela União Europeia para planos estratégicos a nível regional, poderemos colher bons frutos, haja é vontade politica e capacidade para plantar as sementes e cuidar das arvores que temos.

2 comentários:

Anónimo disse...

"nenhuma terra é bonita, quando nela se vive mal", é me bastante óbvia esta afirmação. Por mais linda, enriquecedora que a paisagem fosse, se não houvessem as condições minimas para habitar nela,se a solidão fosse o pão nosso de cada dia, não hesitaria em mudar-me para outro sitio se assim o pudesse. Neste caso, a maior parte das pessoas que habita nesse tipo de terras, são pessoas com uma idade mais avançada, e que se recusam a mudar de sitio... Haverá alguma maneira de resolver este tipo de situação? será que alguém se dá ao trabalho de "olhar" para essas pessoas com olhos de ver? Afinal para quê investir num local onde habitam meia dúzia de pessoas...

É o país que temos... não se pode exigir muito mais.

São precisos pequenos gestos, para alcançar grandes metas. Comecemos ontem antes que o hoje se torne no nosso amanha.

Carlos Leite disse...

Antes de mais obrigado, por expressares o teu pensamento de forma tão eficaz e delicada.

Estas pessoas que estão fixas têm uma hospitalidade e simpatia que valoriza em muito a terra. Depois sabemos que as mesmas não sairão mais de lá, por isso cabe-nos ter astúcia para as fazer sentir felizes, mas para isso é preciso ter também noção do estado real das coisas, e se pensarmos que as coisas estão tão bem como dizem alguns políticos desta terra, nunca iremos pensar em estratégias para as melhorar.
Neste caso, a solução parece-me passar por accionar estímulos financeiros, ou de habitação etc… para a fixação ou atracção de população jovem , empreendedora e com espírito de entreajuda em aldeias como estas, pessoas que estivessem no terreno e as que poderiam ser envolvidos em estratégias de médio longo prazo, para dinamizar a aldeia, e ao mesmo tempo funcionarem como voluntários no apoio ás populações.
Mas é necessário desenvolver algumas infra-estruturas que garantam o conforto destes mesmos.
O segundo ponto e estando garantidos estes primeiros serviços, poderíamos passar á tentativa de atracção de investimento, e apostar no turismo e outro tipo de sectores que poderiam desenvolver em muito a região. E vale a pena investir, e não é só pelo numero de pessoas, mas tambem pelo potencial patrimonial e cultural presente.
E tal dizes na frase com que findas o teu comentário, isto é urgente, quanto mais tarde, este tipo de implementação se torna mais difícil, a não ser que queiramos que este tipo de aldeias desapareçam do mapa.
E quanto ao país que temos…até podemos não exigir, mas devemos alertar este tipo de incongruências nos investimentos, e nas prioridades com que se age.

é por isso que devemos debater pensar e envolver estes casos na discussão publica, podemos até chegar á conclusão que os mesmos não tem remédio, mas não os podemos ignorar, e fazer de conta que eles não existem.

Continua a tua senda de comentários, nós e Basto, agradecemos.