A arquitectura é conhecida pela sua multidisciplinaridade, o que a faz abranger quase todas as áreas. É mais que a arte de projectar, é mais que os desenhos lindos e as casas que concebe, é a cidade é o território, é os sinais que são testemunho da superioridade da razão que organiza o caos das formas da Natureza, é musica no espaço, como se a mesma tivesse sido congelada, é a medicina das cidades, que cura com cirurgias urbanas, ou grandes terapias de choque que obrigam á metamorfose da sua arte e imagem.
Em Basto quando falo que sou licenciado em Arquitectura, muito me agride, a pergunta usual consequente.- E o que é isso? E cai ali a mãe de todas as Artes, numa ignorância que fractura momentaneamente o orgulho que nela tenho. Que continua a ser enxovalhado por comparações com engenheiros ou desenhadores.
Na arquitectura, alem lidarmos com politicas urbanas, estratégia de ordenamento, crescimento e requalificação do território, criamos também peças que embelezam e que marcam as vidas das pessoas, somos artistas, que trabalham com quatro dimensões, artistas que conseguem mudar a imagem das cidades, a quem hoje cada vez mais, as cidades e regiões que se pretendem afirmar no mundo, recorrem. As obras marcantes das vilas e cidades devem ter ligadas a elas, uma imagem e uma identidade que facilmente seja adquirida pelos seus habitantes, ou por apreciadores de arte, que os fazem ter orgulho de as ter como deles.
Vejam o impacto que a obra da Igreja do Marco de Canavezes , da autoria de Siza Vieira tem sobre o Turismo de Arte, a obra chega a ser conhecida alem fronteiras mais que a própria terra. O Mesmo chega a acontecer com o Museu projectado por Frank O. Gehry em Bilbao, Espanha.
A arquitectura com o seu pressagio de rainha das artes, tem a capacidade de alterar positivamente a imagem de uma cidade mas também o contrario, tendo por isso aliada à mesma uma responsabilidade enorme, pois uma má obra arquitectónica tem uma influencia maior e mais duradoura na vida das pessoas,enquanto um quadro mal concebido se vira contra a parede, um livro se mete numa gaveta, uma escultura se deixa no atelier, a obra arquitectónica mal concebida continua na cidade, á merce das pessoas. Frank Loyd Wright disse um dia, “ a diferença entre um medico e um arquitecto é que o médico enterra os seus erros enquanto os arquitectos os expõem.”
Basto tem uma identidade arquitectónica muito marcada pela arquitectura barroca, rococó, dos solares, que na minha opinião continuam a ser a imagem Arquitectónica de marca desta terra , tem tido uma influencia enorme na arquitectura popular, que tenta imitar ainda hoje a imagem daqueles edifícios, mas que lhe retiram os pensamentos a época em que foram concebidos e as essências para a sua beleza.
Um dos grandes Males da arquitectura que hoje se faz por Basto, é que a mesma não é feita por arquitectos, deixando de ser arquitectura para passar a ser construção na maioria das vezes.
Humildemente acho que:
Celorico tem dado um excelente exemplo ao apostar em arquitectura de qualidade, desde a Câmara Municipal até á Biblioteca e Arquivo Municipal, estes conjuntos levaram a que a sua envolvente haja agora uma tentativa de aproximação das construções habitacionais às linguagens da nossa época.
Em Cabeceiras noto a excelência do Mosteiro, mas não vejo nenhuma obra arquitectónica que se tem feito, que dignifique o termo Arquitectura, talvez exceptuando o caso da Capela mortuária em Vila Nune, que acho um bom exemplo a seguir.
Mondim impera com a sua excepcional Zona Verde, de onde destaco o auditório ao ar livre, não me revendo em outro tipo de obra.
Ribeira de Pena não tenho grande coisa a apontar alem da sua biblioteca, mas que também se perde pelo razoável.
Uma das questões que vejo que tem passado ao lado das autarquias, é o desenho do espaço publico e que me parece essencial como factor agregador dos espaços, e essencial para criar vida nas nossas vilas. A arquitectura deve ter como factor central o ser humano, e assim deve criar espaços para que o mesmo se sinta bem nos ambientes que cria, nas atmosferas que concebe.
A arquitectura, é arte que deve ter inerente a ela linguagens, sensibilidade, é uma ciência que se interroga sobre o seu papel, procura factos , que no meu entender só deveriam ser entregues a arquitectos, da mesma forma que a medicina é entregue aos médicos a advocacia aos advogados. Deste modo teremos uma disputa e uma competitividade da arquitectura, só por arquitectos, estando todos no mesmo registo e regido pelas mesmas leis. O mau ordenamento do nosso território deve-se, principalmente ao descrédito e à secundarização do papel que a arquitectura foi tendo, e que parece continuar a ter.
Pela boca morre o peixe
Há 7 anos
4 comentários:
caro miguel
Arquitectura... afinal o que é a arquitectura?? pergunta á qual muitas pessoas não devem encontrar resposta.. num entanto isso também se deve á analfebetização neste país que embora esteja cada vez mais a decrescer ainda se faz notar em certas e detremindas zonas deste país... onde poucas pessoas dão o devido valor as artes... onde a arte é pouco explorada..
contudo, é fácil falar que a arquitectura é isto, é aquilo e que não lhe é dado o devido valor... mas ha um factor de extrema importância que por vezes falta, que é o termo económico.... se reparares os paises e/ou cidades onde a arte é mais notória são paises mais desenvolvidos, mais enriquecidos e que se podem dar ao luxo para tal. Já outros nem por isso, e a meu ver porquê gastar dinheiro nesse tipo de coisas se ha campos (neste momento) muito mais importantes que têm de ser investidos, como na saúde.
Por isso é que maioritariamente as pessoas recorrem a engenheiros e a outro tipo d pessoas, o que eu n digo que seja de todo correcto...
mas é mesmo assim...
primeiro venho o desenvolvimento do país e depois que venha a arte... ou se der as duas coisas ao mesmo tempo... :)
Cara "Su"fia...
Antes de mais quero agradecer-te a assiduidade com que tens expressado o teu pensamento neste espaço, e também pelo teu bom comentário que me pôs a pensar mais…
O que é a Arquitectura?
Está respondido no post… mas posso acrescentar algo parafraseando Le Corbusier:
"a arquitectura é uma missão que exige dos seus servidores vocação. Que, consagrada ao bem da habitação [habitação que abriga os homens, o trabalho, as coisas, as instituições, os pensamentos], a arquitectura é um acto de amar, e não uma encenação".
É a Arte em excelência, e uma sociedade que não dá o devido valor ás artes é uma sociedade que não se encontra ou não se revê nela própria, porque a arte é o reflexo da mesma. Reflexo que deve ser feito por quem tem a vocação que fala Le Corbusier, ou o acto de amar, (maneira estranha às vezes quando vista pela sociedade),pela irreverencia que advem normalmente dos artistas, mas que o é.É o amor manifestado pela critica pela opinião e pelos ideais que se pretende para essa sociedade, somos utópicos dizem muitos, mas somos utópicos porque pensamos o presente tendo em vista um futuro ideal, porque sabemos que é esta a nossa missão.
A questão não é económica, mas sim de mentalidade, e de muita pouca vontade politica, e não querendo alargar-me mais em questões de aposta em campos específicos, como a saúde,( que é a tua área), repara que mesmo para investir na saúde tens que criar Equipamentos e infraestruturas, para que a mesma se desenvolva,e essas obras(segundo um arquitecto classico de nome Vitruvio) além de serem firmes e bem estruturada (firmitas),devem possuir uma função (utilitas), e serem, principalmente, belas (venustas). è so aos arquitectos que é dada esta formação,e pela formação que temos vem a dita vocação.
À cerca de um ano, entreguei-me a uma investigação cujo tema era o seguinte: Arquitectura Saudavel, e vejo que a arquitectura tem um papel muito importante para garantir a salubridade e a excelência nos ambientes, em que as pessoas passam o tempo, mesmo nas cidades, é um dos grandes desafios de hoje garantir cidades saudáveis, para que as pessoas se sintam bem, podendo dar uma grande ajuda no capitulo da saúde. Acredita que a arquitectura é uma daquelas áreas indissociáveis do bom desenvolvimento da sociedade.
Agora repara, achas possível desenvolver um paìs, sem Arte (musica, pintura ,escultura, teatro, cinema) que herança ia ficar para o futuro? Ficaríamos presos a bem ditos essenciais, e mesmo assim vejo a Arte como um bem essencial, nunca na história da humanidade nos conseguimos dissociar das manifestações artísticas.
Venha a boa Arte, é sinal que o resto está bem… é um reflexo.
Obrigado, continua a passar por cá, amiga!
Bem, caros amigos, este post vem mesmo a calhar, seguindo o discurso de uma grande conferência e de um bom debate realizado esta semana num ambiente académico!
Parece que é nestas alturas que ficamos a pensar no papel que a verdadeira arquitectura desempenha para sociedade. E ao contrário do que a Sofia acredita, falar de arquitectura não é tão simples quanto isso, mesmo para quem é formado nessa área, até porque estatuto de arte desta disciplina leva-nos a questões muito subjectivas por parte de quem interpreta a obra de arquitectura! E sabemos que a maior parte das vezes ela é sinónimo de más interpretações e de polémicas, deixadas muitas vezes aos argumentos do senso comum.
Mas como dizia um grande professor de arquitectura, isso é bom. O facto de arquitectura gerar polémica, é sinónimo de não ter passado despercebida às pessoas, e portanto isso já é inovador, porque se consegue por pessoas a discutir arquitectura!
A arquitectura é uma das áreas mais importantes que rodeia o homem, ela é paisagem construída, temos que lidar com ela diariamente, habita-la, encara-la, isso é uma necessidade a que não conseguimos fugir.
Mas surge-nos pensar, o papel da arquitectura na sociedade, e mais do que uma arte a arquitectura desempenha outros papeis, sendo uma disciplina multidisciplinar, que colabora com áreas muito distintas entre si, mas todas elas muito próximas desta área.
O que esta em causa quanto a mim, não é o investimento em arquitectura ser ou não uma prioridade, o que está em causa é que o investimento na construção seja em que campo for, publico ou privado, seja pautada por boa arquitectura, com arquitectura de qualidade, e não com meras construções que na maior parte das vezes surgem descontextualizadas, da realidade e da época em que vivemos. Felizmente começa a haver vontade política, em mudar este discurso!
A arquitectura com o estatuto de “Rainha das artes” que é, já o dizia Vítor Hugo, deve sempre que possível dignificar esse estatuto, o de elevar a obra de arquitectura ao desígnio de obra de arte. “Atingir o Belo”. Mas não tem necessariamente de o fazer sempre, tem por outro lado outros papeis tão ou mais importantes que esse, o responder às necessidades mais básicas de uma sociedade, porque a arquitectura é direccionada unicamente para as pessoas e para o meio.
Contudo não nos podemos esquecer desse papel de obra de arte! Será que conseguimos olhar para Paris sem a Torre Eiffel, ou para Atenas sem o Partenon, ou para Roma sem o Coliseu, ou Para Lisboa sem a Torre de Belém, Porto sem Torre dos Clérigos ou mais polémico para Bilbau sem o Guggenheim, Marco de Canaveses, sem a Igreja de Stª Maria, para Braga ja sem o seu estádio? A arte, marca o pensamento duma época, traz a memória, define o presente… saber quem fomos, é saber quem somos, e saber quem somos, direcciona-nos, para quem seremos… A arte é uma libertação do espírito, e venham as crises que vierem…. A arte diz o que pensa, e nos precisamos dela!
“Só a arte permite a realização de tudo o que na realidade a vida recusa ao homem.” Johann Goethe
Um bem haja a todos!
bom comentário, que complementa e vinca aquilo que defendi no post e no comentario anterior.
A arte é de facto uma liberdade, ainda não encontrei maquina do tempo melhor que esta...quando projecto ou quando pinto vejo nestes actos um incorporar de umas asas que o mundo real parece cortar , mas não, só lhe arranca algumas penas com as quais o desenho...
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