Este post surge em parte na sequência do raciocínio publicado anteriormente pelo Carlos Leite, que falava sobre a “Arquitectura de e para basto”, para falar agora sobre o património.
Pensar basto, deve ser também pensar no que constitui basto, pensar no significado e nas características de toda uma região. Olhar para trás, será útil para projectar um futuro mais inovador, com ideias mais sólidas, baseado em conceitos de identidade, que penso ser sempre um factor chave no desenvolvimento do futuro.
Surge assim referir a importância da memória, saber quem fomos, para perceber quem somos, a fim de projectar o futuro baseado num alicerce de identidade, que considero ser um argumento fundamental para o desenvolvimento de qualquer região. A identidade, é o conjunto de características que nos identifica e portanto que nos distingue dos outros, e a aposta nesses valores por parte da nossa região será sempre a aposta na diferença, e portanto uma aposta segura, e com potencial.
É assim fundamental pensar, quais as características identitárias que as Terras de Basto possuem e que são potenciais factores de desenvolvimento…
De todos as grandes potencialidades eu destaco uma, o património arquitectónico. E é normal para quem percorre as Terras de Basto deparar com a elevada quantidade e qualidade dos solares barrocos maioritariamente do Sec. XVII e XVIII, que embelezam as encostas destas terras. Mas por outro lado, também se fica surpreendido com o elevado estado de degradação com que a grande maioria destes imóveis se encontram.
Há alguns anos na sequência da realização de um trabalho académico, elaboramos um levantamento de todos os solares de Celorico de Basto, as conclusões foram interessantes, mas ao mesmo tempo preocupantes.
Acima de tudo percebemos a importância que este património desempenha para a região, são os símbolos que marcaram uma época, um pensamento, um modo de vida, actualmente são uma memória viva, que felizmente chegou aos nossos dias. A importância dos solares, associados às suas quintas, e em particular os solares minhotos, tem características muito particulares que dizem muito das vivências das pessoas que os habitaram, a escala modesta dos edifícios, compensada com uma projecção e domínio sobre a envolvente, e com as ornamentações, que mesmo modestas, dão um toque de nobreza ao edifício. E ainda os belíssimos jardins talhados que muitas vezes ainda envolvem os edifícios.
São características particulares desta região do país, em que a importância deste património vale pelo conjunto, pois estamos a falar só da região do país com maior número de casas brasonadas a nível nacional.
Contudo, os elevados índices de abandono e degradação destes imóveis, merecem um alerta urgente, face à necessidade de criar uma estratégia pertinente não só de recuperação, mas sobretudo de vivenciar a utilidade destes imóveis, pois torna-se fundamental criar novas alternativas ao seu uso.
A importância destes solares pareceu passar despercebida durante muito tempo por parte das entidades políticas, felizmente há alguns casos de sucesso, e de boas intervenções. Celorico parece um concelho sensibilizado e empenhado em recuperar não só esse património, mas também em dar-lhe uma nova vida, como se pode perceber com as adaptações da Quinta de S. Silvestre a Biblioteca Municipal, a Casa do Prado a Câmara Municipal,… e mais recentemente a aposta na adaptação da Casa da Boavista a hotel. Existindo depois outros bons exemplos que mantiveram a sua função residencial, e de turismo de habitação….
São soluções pertinentes, com visão, mas ainda há muitos solares espalhados pela região à espera da sua oportunidade.
Este património é demasiado importante, para ficar a mercê das suas memórias, não só pelo que vale, mas sobretudo pelo que representa não só a nível regional mas também a nível nacional. Vale pelo seu conjunto, pela abundância, e pela proximidade entre eles, e uma boa estratégia de valorização deste conjunto, pode tornar-se numa imagem de marca das terras de basto.
Urge assim criar uma estratégia de recuperação de todos esses imóveis, numa altura em que parte deles perderam a sua função original, é urgente encontrar alternativas ao seu uso, e função. Essa é uma estratégia de adaptação a novas necessidades de um novo tempo, e de uma nova sociedade.
Como dizia o mestre Fernando Távora, ”Património é só um: passado, presente e futuro”.
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3 comentários:
A degradação e a consequente urgência de preservação dos solares de Basto, são um tema ainda controverso por questões económicas. A requalificação dos edifícios brasonados perece ser por vezes incompreensível, uma vez que a localização de alguns não lhes conferem utilidade económica aparente. Aqueles que se situam nas vilas, ou próximo delas, têm sorte diferente, pois as suas paredes servem sempre para alguma coisa útil para as autarquias.
Na minha opinião, é previsível que num futuro próximo muitos dos solares de Basto estarão em ruína, pois dependem por enquanto apenas das possibilidades económicas dos proprietários. Pergunto então quais serão as alternativas ao seu uso? A hotelaria e a restauração serão suficientes para salvá-los? Qual será o plano ideal? Será necessário encontrar alternativas inovadoras, ideias únicas e futuristas, que passem também por aquilo que deles sai: os vinhos de Basto.
Os solares de Basto contam uma história muito mais antiga que a nacionalidade. Eles são a história da região, e acredito que o futuro desta passa obrigatoriamente por eles também. Penso portanto que o futuro económico desta região é o turismo, mas para tal será necessário descentralizar o capital que lhe é destinado, que está concentrado numa única região do país.
Caro André...
A questão dos solares estarem isolados permitem que tenham uma boa rentabilidade económica, repare que poderiam ser utilizados como turismo de habitação, em que se poderia apelar a uma maior diversidade neste tipo de turismo ou que atingisse públicos diferentes, e com eventos diferentes. Aqui a grande questão da proximidade das vilas e das autarquias os aproveitarem para requalificar para albergar funções da mesma, vem mostrar alguma falta de iniciativa e de astúcia para requalificar o restante património.
existe um programa financiado pela união europeia, que é o P.I.T.E.R.
que é um programa estratégico turístico de âmbito regional, em que se poderia receber cerca de 70% do investimento que é feito, por exemplo na requalificação dos solares, e ninguém se disponibiliza para activar o pedido, pois teriam que entrar com os restantes 30%... ou seja poderia-se injectar, por exemplo cerca de 50 milhões de euros na nossa região, e a câmara teria que entrar com 15 milhões, destes muito poderia ser dado por privados, para explorar a reconstrução durante algum tempo...falei em 50 milhões mas poderiam ser 15 milhões.
mas sei que as autarquias não estão muito bem de finanças, mas será que não valeria a pena recorrer ao credito quando estão estas grandes verbas envolvidas?
Caros amigos, claro que esta questão é polémica, principalmente numa altura em que se fala tanto em crises económicas, é claro que as próprias autarquias têm a corda na garganta. O programa P.I.T.E.R. referido pelo Carlos Leite poderá de facto ser o argumento chave para esta estratégia de intervenção, e se calhar o único, a menos que os rumores de investimentos privados estrangeiros sejam mesmo levados adiante.
Claro que pelo facto dos exemplos que eu referi, a Casa do Prado, a Quinta de S. Silvestre, terem uma localização central à vila teve peso para a sua adaptação as novas funções, mas mesmo assim as intervenções foram pertinentes. Contudo discordo da opinião de que pelo facto de alguns dos solares estarem dispersos, essa adaptação já não seja possível. Isso até é um factor que pode ser tido como positivo, e levar por exemplo um tipo de turismo de habitação, e/ou rural, a freguesias e lugares mais isoladas e que precisam de dinamismo. Um pouco há imagem do que se passa em algumas aldeias isoladas no interior, que pelo abandono populacional, são agora convertidas para um tipo de turismo em ascensão, que ganha novos adeptos a cada dia que passa… a procura do ar puro, a fuga temporária das cidades, o regresso temporário às origens… é um fenómeno em ascensão, cada vez mais apreciado não só pelos portugueses, mas também pelos turistas da restante Europa! Eu considero que acima de tudo, se temos a matéria-prima, diga-se os solares, aliados às suas quintas, às actividades rurais, a uma outra marca regional que são os vinhos… e tudo isto pode ser usado num mesmo sentido, que é promover a região! Assim se conseguiria resolver os problemas da degradação dos imóveis, e por outro lado vivenciar o seu uso, dinamizar economia destes concelhos, e sobretudo promover a imagem identitária das Terras de Basto!
Mas acima de tudo fica um alerta de sensibilização para este problema…
Um bem-haja a todos!
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