terça-feira, 5 de maio de 2009

A verdade da mentira

“Cansados de dilemas e de leituras complexas, os eleitores preferem os discursos cheios de soluções à medida, que descartam as contrariedades, ignoram os sacrifícios ou que, em qualquer caso, adiam o sofrimento. Este sentimento gera um paradoxo: a cada oportunidade de votar há como uma esperança latente de mudança, uma réstia de motivação, que desafia uma necessidade de estabilidade e segurança. Assim, vota-se no mesmo, acreditando que fará diferente. Vota-se naquele que, antes, nos mentiu, porque queremos dar-lhe, a ele e a nós, mais uma oportunidade. Tolera-se o cinismo do político, travestido, que hoje está muito próximo dos que ontem criticou. Aliás, em politiquês, a palavra “mentira” nem existe; diz-se “in-verdade” no discurso politicamente correcto. . (...) . Os eleitores são atraídos pela sedução do poder e acreditam que há no eleito (o escolhido, o ungido…) uma legitimidade, sufragada, que está acima da legitimidade jurídica. Ao vencedor, atribui-se um estatuto de imunidade que o torna inimputável. Gostamos de acreditar que “quem manda” pode sempre mais do que aquilo que a lei permite e piscamos o olho à engenhosa desfaçatez do político e ao seu famoso poder discricionário.”
[ler tudo aqui]
José António Nobre em Mondim Leituras
isto tem que mudar, mas quando?

Sem comentários: